15/11/2017

[Textualizando] Lamentar não vai trazê-lo de volta (conto) + 15 de dezembro de 1997 (conto)

Olá, livreiras e livreiros! Hoje viemos trazer para vocês mais dois contos premiados daquele projeto que falamos na semana retrasada para vocês, lembram? Tivemos que trazer dois contos hoje porque estamos atrasadas com as postagens, hehe... O primeiro conto é da aluna Rafaela Rodrigues, que ganhou o 2º lugar na categoria Conto Psicológico; e o segundo conto é da aluna Lavínia Soares, que ganhou o 1º lugar, também na categoria Conto Psicológico. Vamos conferir?!

Lamentar não vai trazê-lo de volta

Eu estava confusa, precisava de uma forma de me salvar. Quando ele apareceu no verão passado. Não pensei duas vezes, agarrei-me àquela esperança de ser salva. Eu estava perdendo minhas cores, e ele me coloriu novamente. Agora se foi. Tudo que faço e aonde vou, lembro-me dele. Tínhamos tantos sonhos, fizemos tantos planos. Este parque me lembra ele, um jogo que inventou para se livrar dos tênis que ganhara em seu aniversário.

- A gente joga o tênis e mede com a fita métrica, quem jogar mais longe vence...

- Para que medir, Dante?

- Para saber quem jogou mais longe, Margot!

- Isso é só um jogo! Medir não é importante.

- Para mim é!

- Okay, vamos logo com isso...

Ele sempre dizia:

- Li em um livro que poemas são como pessoas, alguns você entende de primeira, outros são inescrutáveis.

Penso que me encaixo na parte do "inescrutável". É tudo tão complicado... Mas parece que para ele não era. Chorava na frente das pessoas e não tinha vergonha, demonstrava que amava seus pais a todo momento, sabia ser cuidadoso com as pessoas, sabia ser cuidadoso com as palavras.

Ele me amava, eu sabia disso. E eu o amava, ele sabia disso. Como um menino tão doce, gentil e amável interessou-se por uma menina tão amarga e triste? Éramos como o sol e a lua, o verão e o inverno, a alegria e a tristeza. Se as pessoas fossem chuva, eu seria a garoa, ele, o furacão. Notei que se pensasse mais neste assunto começaria a chorar e não quero que as pessoas pensem que sou fraca e frágil.

Entro no meu carro e ligo o rádio, na esperança de espantar aquelas lembranças. Não adiantou, a música que está tocando é Asleep do The Smiths, a música preferida dele. Lembro-me daqueles olhos que até hoje não sei exatamente a cor, ora verdes, ora azuis. E lembro-me da gente indo para um lugar deserto, onde não havia nenhuma poluição luminosa só admirar as estrelas... Como eu ainda tenho coragem de entrar nesse carro? É tudo culpa minha! Se eu tivesse tomado mais cuidado... Minha mãe sempre diz que me culpar e lamentar não vai trazê-lo de volta. E ela tem razão.

Depois de um longo dia, ele foi para a minha casa, e eu disse que queria sorvete...

- Não tem sorvete aqui.

- Então eu vou comprar.

- Mas está chovendo, a estrada é perigosa!

- Não ligo.

- Me espere, vou também, não quero ficar aqui sozinho.

E, realmente, a estrada estava perigosa. Eu estava em alta velocidade, havia um penhasco, o carro derrapou, caiu. Me machuquei muito, mas melhorei rápido. Ele ficou uma semana no hospital, mas não resistiu. Quando recebi a notícia, meu mundo desabou, era uma dor que não cabia dentro de mim, queria gritar até perder a voz, mas apenas chorei, chorei como uma criança. E o que me matou foi o olhar da mãe dele.

Sinto falta, um pedaço meu foi arrancado sem dó nem piedade. Sinto falta de perder as discussões, de seguir as regras dos jogos que ele inventava (mesmo achando idiota), sinto falta de rir das piadas bobas que ele fazia.

Se eu tivesse tomado mais cuidado... Lamentar não vai trazê-lo de volta.

Rafaela Rodrigues

15 de dezembro de 1997


Ainda me lembro perfeitamente da extrema angústia que sentia em meu peito naquela noite de 15 de dezembro de 1997, em uma banheira com água morna no quarto 230 do Hotel Valenttine. Hoje quase 20 anos depois, minha mente parece um toca fitas e as lembranças de Elizabeth Rose são um k7, com uma música docemente depressiva.

Aqui sentado na lanchonete da Rua Quatro, me lembro como conheci Beth. Terceiro ano do colegial, primeiro dia de aula, era pra ser mais um dia medíocre com a professora de química tentando me fazer entender fórmulas que nunca mais usaria na minha amarga vida. Quando então, a porta abriu e o mundo parou. Um presente de Deus vindo do Alasca, eu nem sabia que existiam seres humanos lá, quanto mais uma escultura humana, de cabelos ondulados, pele de pétalas de copo de leite, olhos negros como preciosas pérolas negras e um sorriso tão radiante que derreteria toda a Antártida, como o de Elizabeth Rose.

No intervalo, me sentei no mesmo lugar de sempre, lendo um livro para a aula de literatura, mais umas das odiáveis historinhas de amor platônico, estava quase vomitando em cima das páginas, mas em meu coração pressentia que logo iria vivenciar aquela história. Ela estava lá, sentada do outro lado do refeitório, perdida, sem ter com quem desabafar sobre a tristeza que foi ter que abandonar seus amigos, colégio e lugares preferidos da antiga cidade. Tomei coragem, respirei fundo e fui falar com ela.

- Oi! Elizabeth, não é?

- Isso! Olá...Desculpe, são muitos nomes novos para decorar...

- Júlio.

E conversamos. Aquele dia, no outro e no outro, quando percebemos não ficávamos um dia sem nos falar. Meu pressentimento estava errado, ela também se apaixonou. Demos nosso primeiro beijo. Éramos namorados.

Chegou o dia da nossa formatura e como ótimos odiadores de festas que éramos nem pisamos os pés naquele ginásio cheio de balões, confetes e polaroids de pais orgulhosos. Fomos para Londres, ela e eu. Andamos de mãos dadas nas ruas frias e mesmo em uma temperatura de menos cinco graus, suávamos com o calor da nossa paixão, eu podia ver o brilho no olhar dela olhando para o céu, para as pessoas, para o Big Bem. Eu pertencia somente à Elizabeth Rose, mas ela não pertencia a mim e sim ao mundo.

Fomos para o hotel. E foi um ataque, tão rápido... Quando percebi o amor da minha vida estava caída no chão, sem vida, seus lindos olhos negros já não brilhavam... 15 de Dezembro de 1997, em uma chão frio, no quarto 230 do Hotel Valenttine, estava a mais bela mulher, morta, e eu em uma banheira com água morna, com lágrimas nos olhos e uma dor enorme no peito.

Hoje estou aqui na mesa da lanchonete da Rua Quatro, com a vigésima primeira Elizabeth à minha frente. No rádio está tocando "Don't Speak" da banda No Doubt, era a música preferida da minha amada Beth. Quando a música acabar, vou deixar o dinheiro em cima da mesa e sair sem me despedir de mais uma tentativa fracassada de achar outra como minha amada. Vou para o refeitório daquele colégio, me sentar no lugar onde conversamos pela primeira vez, até me expulsarem de lá pela vigésima primeira vez, ou até eu dar um ataque, como aquele que dei no dia 15 de Dezembro de 1997, quando matei Elizabeth Rose, com a idéia de que se ela não me pertencia, também não pertenceria ao mundo.

Lavínia Soares

47 comentários:

  1. Anônimo14:39

    Excelentes contos! Temos aí duas promessas na literatura! O conto é um estilo delicioso! Rápido, ágil, é preciso habilidade para contar em poucas páginas! Adorei esse gostinho do conteúdo... E os personagens estão bem definidinhos! Fica aí o meu registro de felicidade pelo incentivo à literatura!

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    1. Oi! Muito emocionada com seu olhar. Obrigada, pelo carinho com o projeto. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  2. Anônimo20:31

    Adorei os contos! São rápidos de ler, e muito gostosinhos também, já deu vontade que eles fossem maior!!!

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    1. Obrigada, Nátalia. Quem sabe não vem livro deste contos? Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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    1. Obrigadaaaa, pelo carinho! Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  4. Oi
    legal os contos, as meninas escrevem muito bem, não sei que projeto é esse mais vou ter que dar uma olhada nos poste anterior para saber,

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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    1. Oi, Denise! Obrigada, pelo carinho e interesse. Este projeto foi aplicada em uma escola de MG, participei da entrega de reconhecimento pelos melhores contos. A vivi e Larissa foram parceiras na arte, divulgação e incentivo maior. Teremos novas versões, acho que ainda este ano. Por mais amor a literatura e escrita. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  5. Gostei dos contos Larissa, em especialmente do segundo, que tem uma pegada bem gótica. Beijo!

    www.newsnessa.com

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    1. Obrigada, pelo carinho. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  6. Olá,
    Que bacana o projeto e os contos ficaram bem bacanas.
    O primeiro super me lembrou minha adolescência e os amores haha

    bjs
    Nana - Canto Cultzíneo

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    1. Obrigada, Nana. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  7. Oi! É impressão minha ou a primeira escritora é admiradora do John Green, "eu sou garoa e ele o furacão" hehe. Os dois contos estão muito bem escritos, mas gostei mais do segundo, adorei o final dele!
    Beijos

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    1. Obrigada Isabela. E parabéns pela delicadeza e atenção com os mínimos detalhe. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  8. Ai que delicia de contos meninas, realmente fiquei apaixonadinha e diria para que tendem colocá=los até mesmo em uma antologia da darda, quem sabe seriam aceitos e fariam sucesso, achei encantador.
    Beijinhos

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    1. Obrigada, Morgana. E aguarde que temos mais novidade com esse contos. Quem sabe vem livro por ai. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  9. Adorei esse projeito!! Incentiva tanto quem escreve e motiva quem tem vontade de escrever, as vezes eu me arrisco a escrever pequenos contos, por isso adorei sua ideia. Ficaram ótimos esses pequenos contos!

    Beijinhos!!
    Amanhecer Literário

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    1. Oi, Leisiane. Este foi o maior motivo de realizar o projeto. Se estamos incentivando a escrita, logo estamos incentivando a leitura. Um casamento inseparável. E vai uma dica, escreva, escreva sempre. Releia, releia e quando senti preparada tente concurso, também. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  10. Jovens talentos!! Estão as duas de parabéns!!

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    1. Obrigada, Miguel pelo reconhecimento. Precisamos sempre incentivar. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  11. Que contos maravilhosos, muito talento!

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    1. Obrigada, Stéfani. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  12. Gente, que contos lindos! Terminei com aquele vazio, querendo uma continuação pra saber como ficou a vida dos personagens AAAAAAA
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe das promoções em andamento e ganhe prêmios maravilhosos

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    1. Obrigada, Luiza. Quem sabe destes conto, nasce um romance. Vamos torcer. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  13. Muito bacana publicar os melhores contos do projeto aqui! Acho que o incentivo a escrita é muito importante! Esse ano fiz questão de ler mais livros nacionais, tem tanta gente talentosa perto da gente e muitas vezes nem nos damos conta! Eu adorei os contos, fiquei com aquele gostinho de quero mais hahaha <3
    Beijos
    Colorindo Nuvens

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    1. Oi, Dai. Muito emocionada com seu reconhecimento com o projeto e carinho com escritores nacional. Saiba, que isso é muito importante para todos nós. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  14. Bem legal, esse projeto de incentivar a inscrita é bacana hein.
    Uma ótima ideia.

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    1. Obrigada, Thi. Sim, precisamos sempre estivar. E irei fazer sempre isso com todo amor do mundo. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  15. Amei esse Post, esse contos são aqueles que nos faz chorar lendo. Muito bacana mesmo. Bjos

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    1. Obrigada, Ádina pelo carinho. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  16. Olá, tudo bom?

    Ótimos contos! As meninas tem grande potencial para investirem na carreira como escritoras. Achei bem legal o projeto, pois quando eu estudava, não havia nada parecido. Eu ficaria bem animada se tivesse algo assim na minha época, rs. E é legal que elas conseguiram criar contos psicológicos, transmitindo diversos sentimentos. Ficaram maravilhosos.

    Enfim, adorei a postagem :)
    Abraços.

    https://instantesmemoraveis.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Wellida. Muito lindo seu reconhecimento e depoimento. Obrigada, de coração. Na minha época também não havia este tipo de trabalho. Por isso, para mim, foi um prazer em participar. É tanto que estamos providenciando uma nova versão. Que este projeto vire rotina. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  17. Que contos maravilhosos!
    Ótimo projeto.
    Beijos.
    https://vinteedoisdemaio.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Gabriele. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  18. Tudo bom?
    Cinfesso que n consigo ler contos, pq alguns me deixam curioso e gosto de quero mais.
    Mas, eu gostei desses que vc nos apresenta. A leitura é bem fluida, gostosa. Parabéns!

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    1. Oi, Obrigadaaaaa por apreciar. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  19. Parecem ser histórias lindas. Adorei as capas também *-*

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Oi, Monique. Obrigada! Quanto as capas, a arte é da Larissa. Acho que tenho uma capista para meu próximo livro, pois também fiquei apaixonada. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  20. Oie
    Parabéns para as meninas que escreveram os contos, ficaram muito bons.

    Beijinhos
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br

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    1. Oi, Nessa.Obrigadaaaaaa. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  21. Olá!
    Gostei bastante da premissa dos dois e fiquei interessada em realizar em algum momento a leitura.
    Gostei dos elementos envolventes e bem direto das histórias.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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    1. Obrigada, Camila. Quando ler deixe seu parecer. É importante podermos sempre incentivar os jovens com escrita e leitura. Beijos na alma. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  22. Olá Lavínia,

    Gostei de conhecer os contos e desejo sucesso para as autoras....bjs.


    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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    1. Oi, marco. Obrigada, pelo carinho. Irei transmitir a Lavínia. Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  23. Obrigada, Sabina! Beijos. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  24. Vivi e Larissa. Não tenho palavras para agradecer. Muito emocionada com a chuva de carinho e zelo com os comentários e com a parceria de ambas. Vocês moram em meu coração. Já são "amiguxinhas" que quero zelar sempre com muito amor. OBRIGADAAAAAAA.... Beijos e mil beijos na alma. Patrícia Brito www.patriciabritto.com

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  25. Olá, eu me lembro da primeira postagem sobre esse projeto, gostei bastante dele. Achei os dois contos de hoje muito bons e gostei de tê-los lido aqui no blog.

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